Inpe: pela 1ª vez no atual governo Lula, alertas de desmatamento na Amazônia sobem no 1º semestre

Taxa de desmate para os seis primeiros meses aumentou 27%, de 1.645 km² em 2024 para 2.090 km² neste ano. No Cerrado, o total de áreas sob alertas de desmata...

Inpe: pela 1ª vez no atual governo Lula, alertas de desmatamento na Amazônia sobem no 1º semestre
Inpe: pela 1ª vez no atual governo Lula, alertas de desmatamento na Amazônia sobem no 1º semestre (Foto: Reprodução)

Taxa de desmate para os seis primeiros meses aumentou 27%, de 1.645 km² em 2024 para 2.090 km² neste ano. No Cerrado, o total de áreas sob alertas de desmatamento apresentou uma queda de 9.8% no mesmo período. Os alertas são feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²). Ueslei Marcelino/Reuters O acumulado de alertas de desmatamento durante os primeiros seis meses do ano na Amazônia Legal está em 2.090,38 km², segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 📉 Quando comparado com o mesmo período do ano passado, o índice representa um aumento de aproximadamente 27%, quando os alertas somaram 1.645,94 km². Os números foram divulgados na manhã desta sexta-feira (11) pelo Inpe. 🌱 A Amazônia Legal corresponde a 59% do território brasileiro, e engloba a área de 8 estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e parte do Maranhão. É a primeira vez que o índice sobe no período correspondente ao terceiro mandato do presidente Lula (PT). Os alertas são feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Ele produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²) – tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (por exploração de madeira, mineração, queimadas e outras). Por isso, os números podem ter alteração até a finalização da análise dos dados pelo Inpe, que costuma rever a influência de fatores como a cobertura de nuvens na medição das taxas. Ainda segundo os dados do Deter, a Amazônia teve 458 km² de área sob alerta de desmatamento em junho. É o menor número já registrado para o mês desde o início da série histórica. ☁️ Ao mesmo tempo, porém, o monitoramento enfrentou o maior índice de cobertura de nuvens para junho, o que pode esconder parte da devastação. Mato Grosso, Pará e Amazonas lideraram o ranking de áreas mais afetadas: juntos, somaram mais de 400 km². Só o Mato Grosso respondeu por quase metade do total, com 206 km². No acumulado dos seis primeiros meses de 2025, o Mato Grosso também encabeça a lista dos estados que mais perderam floresta: foram 1.097 km² derrubados, alta de 141% na comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo o Deter, quase 40% do desmatamento detectado entre 1º e 27 de junho ocorreu em áreas sem definição clara de uso, como florestas públicas não destinadas (17,5%) e terras sem registro fundiário (21,4%). Ainda assim, a maior parte da devastação ocorreu em propriedades privadas, que concentraram 43,5% dos alertas em junho. E essa tendência se repete no semestre: até 27 de junho, donos de terras privadas foram responsáveis por 795 km² de desmatamento — 39% do total, um salto de 81% em relação aos 439 km² do mesmo intervalo em 2024. Para Ana Clis Ferreira, porta-voz de Florestas do Greenpeace Brasil, o aumento do desmatamento na Amazônia neste primeiro semestre pode estar relacionado a uma expectativa de retrocesso nas políticas ambientais, especialmente no Mato Grosso, estado que lidera os índices de destruição neste ano. Ela aponta que acordos importantes, como a Moratória da Soja, vêm sofrendo pressões políticas e jurídicas. Além disso, alerta para o risco de afrouxamento nas regras de licenciamento ambiental, com a possível aprovação do Projeto de Lei 2159/2021, apelidado por ambientalistas de “PL da Devastação”. “A Moratória da Soja tem sido central para conter o avanço da destruição na cadeia da soja, mas está sendo atacada. E o PL da Devastação pode piorar ainda mais a situação, ao facilitar a expansão do desmatamento”, afirma Ferreira. Em nota, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) afirmou que o aumento foi fortemente influenciado pelos incêndios entre agosto e outubro de 2024 (veja nota NA ÍNTEGRA ao final desta reportagem). As áreas classificadas como “desmatamento com vegetação” cresceram 266% em relação ao mesmo período do ano anterior, devido à “temporada atípica de incêndios”, segundo a pasta. Já o “desmatamento com solo exposto” se manteve estável e no menor nível em cinco anos. Sem a elevação do desmatamento ocasionada pela intensidade do fogo no ano passado, agravada pela mudança do clima a nível global e pela seca extrema que se estendeu por dois anos consecutivos na Amazônia, o desmatamento total no primeiro semestre de 2025 teria caído 1,5% em relação a 2024. A nota também informa que houve redução de 65,8% nas áreas queimadas e de 46,4% nos focos de calor no país. Na Amazônia, a queda foi ainda maior: 75,4% e 61,7%, respectivamente. O ministério afirmou ainda que segue com ações de fiscalização e combate ao desmatamento previstas no Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), com apoio do Ibama e ICMBio. Queda no Cerrado Já no Cerrado, o total de áreas sob alertas de desmatamento apresentou uma queda de 9.8% no mesmo período. No ano passado, de janeiro a junho o bioma registrou 3.724,3 km² de áreas devastadas. Já este ano, foram 3.358,3 km². Apesar da queda, na contramão da redução do desmatamento em outros biomas, o Cerrado vem perdendo historicamente vegetação e é o bioma mais desmatado no país. Muito dessa destruição, acontece com o uso do fogo, em incêndios descontrolados. Há alguns anos especialistas apontam inclusive que o bioma sofre a com falta de atenção política e orçamentária, mesmo sendo uma região estratégica para a segurança hídrica, climática e alimentar do país. O Cerrado, por exemplo, abriga as nascentes das principais bacias hidrográficas brasileiras, mas perde cobertura nativa mais rapidamente que a Amazônia. O g1 procurou o Ministério do Meio Ambiente (MMA) para comentar os números, mas a pasta ainda não respondeu até a última atualização desta reportagem. Deter x Prodes 🚨 Os alertas de desmatamento são feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²), tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (exploração de madeira, mineração, queimadas e outras). O Deter, contudo, não é o dado oficial de desmatamento, mas alerta sobre onde o problema está acontecendo. A medição oficial do desmatamento, feita pelo sistema Prodes, costuma superar os alertas sinalizados pelo Deter. Nota do MMA, na íntegra: As áreas sob alerta de desmatamento na Amazônia identificadas pelo sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no primeiro semestre de 2025 sofreram forte influência dos incêndios ocorridos no bioma entre agosto e outubro de 2024. De janeiro a junho de 2025, as áreas sob alerta de “desmatamento com vegetação”, que correspondem a locais atingidos pelo fogo, cresceram 266% na comparação ao mesmo período do ano anterior. O aumento está ligado à temporada atípica de incêndios que acometeu a Amazônia no segundo semestre de 2024. A extensão territorial afetada pelo fogo é contabilizada pelo satélite apenas no início do período seco, quando há menor concentração de nuvens no céu. A categoria de “desmatamento com solo exposto”, que indica áreas atingidas pelo corte raso de vegetação, manteve-se estável no primeiro semestre de 2025 em relação a 2024 e alcançou o menor patamar dos últimos cinco anos. Sem a elevação do desmatamento ocasionada pela intensidade do fogo no ano passado, agravada pela mudança do clima a nível global e pela seca extrema que se estendeu por dois anos consecutivos na Amazônia, o desmatamento total no primeiro semestre de 2025 teria caído 1,5% em relação a 2024. Diante do crescente déficit hídrico verificado na Amazônia e na região central do Brasil nos últimos anos, os incêndios passaram a exercer maior influência sobre o desmatamento. Por isso, o governo federal, junto aos estados, municípios, comunidade científica e sociedade civil, tem atuado para prevenir e combater os incêndios e implementar uma governança que transforme o Brasil em um país resiliente ao fogo. Também no primeiro semestre deste ano, houve queda de 65,8% nas áreas queimadas e de 46,4% no número de focos de calor no território nacional em comparação ao primeiro semestre do ano passado. Na Amazônia, a redução de áreas queimadas para o período foi de 75,4%, e de focos de calor, de 61,7% (saiba mais aqui). Além disso, seguem em plena execução as ações de monitoramento e fiscalização previstas no Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e realizadas pelo Ibama e ICMBio. SATÉLITES: Entenda como funcionam satélites que monitoram desmatamento na Amazônia DESMATAMENTO ZERO: o que Lula prometeu mudar na preservação da Amazônia CONFERÊNCIA DO CLIMA: entenda os avanços e as pendências da última COP